A pergunta que mais respondo, desde que me mudei para a Itália é sempre sobre a adaptação escolar dos meus filhos.
Acho que essa é a maior preocupação das mamães que pensam em realizar o processo de reconhecimento da cidadania italiana e mudar de país com filhos já em idades escolares, assim como nós fizemos. Então, resolvi contar um pouquinho da experiência da minha família e dividi-la com vocês. Como o assunto é extenso, para não ficar cansativo, contarei em dois textos.
Mas, gostaria antes de tudo, de esclarecer que vou falar aqui da MINHA experiência vivida com os MEUS filhos, na MINHA cidade. Que fique bem claro que cada um é cada um, cada escola é uma escola e que cada região tem seus costumes e maneiras diferentes de trabalho.
Nosso primeiro passo, quando ainda estávamos no Brasil, foi pedir a transferência e o histórico escolar no colégio onde estudavam e levar tais documentos para serem apostilados em cartório. Com tais documentos em mãos, meu marido chegou na Itália e fez a tradução juramentada para levá-los ao colégio.
De acordo com a Constituição Italiana, o direito ao estudo gratuito é garantido a todos os cidadãos. Mas, assim como no Brasil, o sistema de ensino na Itália abrange também escolas privadas. Entretanto, optamos sem sombras de dúvidas por colocar nossos filhos numa escola pública local, onde todos os italianos normalmente estudam.
Na Itália, e em grande parte dos países europeus, o ensino das escolas públicas é um ensino de qualidade. Só para constar, a maioria das escolas privadas são para crianças que precisam de um acompanhamento especial.
Porém, para saber em qual escola pública da cidade as crianças estudariam, era necessário saber onde moraríamos, em que região (bairro). E, como ainda procurávamos uma casa para nos instalar, tivemos que esperar um pouquinho.
Casa resolvida, documentos de transferência brasileiros já na escola (que diga-se de passagem fica a 5 minutos andando da nossa casa, isso para mim foi uma alegria, tendo em vista o transtorno com o trânsito e estacionamento que passávamos todos os dias para levar e buscar as crianças no colégio no Brasil), fomos muito bem recebidos pela coordenação da escola, que na hora se prontificou a abrir vagas para nossos filhos. Pagamos uma taxa de 20 € anual para cada filho estudar. 20 € porque a inscrição deles foi feita fora do período certo, que normalmente é junho. O valor da taxa cobrada pelo governo anualmente por cada criança é de 10 €.
Imaginem a felicidade do meu marido no dia em que fez esse pagamento? Acredito que vocês, que como nós estão acostumados a pagar escolas particulares no Brasil nos dias de hoje, tal taxa foi inacreditável. Ficamos esperando o momento em que viria alguma "pegadinha". Pois é, mas a "pegadinha" não existe, a realidade é essa mesmo!
A escola é pública, gerida com a arrecadação dos impostos pagos pelos cidadãos de bem. Coisa que nós brasileiros da minha geração estamos desacostumados a ver. Uma coisa tão óbvia, tão normal, que para nós gerou tanta surpresa. Aí nos perguntamos, em que mundo estávamos vivendo?!
Quando cheguei à Itália em julho de 2017, minha filha mais velha tinha 8 anos e 4 meses e cursava o 3º ano do ensino fundamental no Brasil. O meu menor tinha 5 anos e 9 meses e cursava o último ano da escola infantil. Ambos estudavam em colégios particulares de muito bom nível.
Como no Brasil, aqui na Itália, as crianças com 6 anos cursam o 1º ano da “scuola elementare”, equivalente a nossa 1ª série do ensino fundamental, a antiga “alfabetização”. Então, para o menor que completaria 6 anos em outubro, se encaixou perfeitamente.
Porém, aqui na Itália, diferentemente do Brasil, o ano escolar se inicia em setembro. A diretora da escola, então, orientou que a minha mais velha não voltasse ao início do 3º ano, que já tinha iniciado em fevereiro no Brasil, mas sim iniciasse logo o 4º ano.
Apesar da minha filha nunca ter me dado trabalho com estudos, confesso que fiquei bastante preocupada. Mas, quem sou eu para contestar uma especialista em educação? Confiei na orientação da diretora e mantivemos como sugerido. Óbvio que meio ano de estudo faz bastante diferença. Mas minha maior apreensão era quanto a adaptação à língua estrangeira e à maturidade (pois estudaria com crianças um pouquinho mais velhas).
No primeiro dia de aula, nós, pais, estávamos mais ansiosos do que as crianças. Chegamos cedo e ficamos aguardando do lado de fora até que os portões se abrissem. Eu fui com a mais velha procurar o 4º ano e o pai foi com o mais novo procurar o 1º.
As crianças entraram em sala de aula e vi umas mães naquele alvoroço próximo a porta da sala com celulares na mão. Eu, totalmente perdida no italiano, entendi que falavam algo referente ao material escolar e fui tentar perguntar alguma coisa. Quando a primeira mãe que tento falar me olha e me pergunta: você fala português?
Geeeente, que alívio ouvir aquela frase! Abri um sorriso, me deu uma alegria! E ela continuou... me disse que havia morado 10 anos no Brasil no interior de São Paulo, retornando a viver na Itália em 2016 e que a filha, que era da mesma sala da minha, tinha nascido no Brasil e falava português fluente.
Isso para mim foi como um presente enviado do céu na hora certa! Daí em diante as coisas ficaram muito mais fáceis. Essa mãe me ajudou muito com tudo que eu precisei, inclusive conheci a “mãe representante da turma” e já saí da escola no primeiro dia de aula fazendo parte do grupo de avisos das mães do 4º ano no WhatsApp. Até que me saí bem, né? Com certeza muito melhor do que eu esperava.
Quanto ao menor, quando passei pela turminha dele, vi ele lá sentadinho aguardando as aulas começarem no meio de várias crianças chorando. As crianças da turminha dele vinham de outra escola, a chamada escola materna aqui, equivalente a educação infantil no Brasil. Por isso, muitas estavam inseguras com o primeiro dia de aula em uma escola nova. Uma escola de crianças maiores onde eles eram os mais novinhos.
Então entrei na sala, perguntei se estava tudo bem e ele me disse, “meio envergonhado de eu estar ali”, que sim. Meus olhos começaram a lacrimejar e me deu uma vontadezinha de chorar. Assim, antes que eu desabasse e “pagasse aquele mico” lá, me mandei.
Confesso que eu e o pai passamos uma manhã um pouco tensa. Não parava de pensar um minuto em como os dois estariam se virando sem falar e sem entender o idioma. Meu medo era que eles se assustassem logo no primeiro dia e de cara pegassem pavor da escola. O que dificultaria muito a nossa adaptação aqui.
Digo, sinceramente, que desse primeiro dia em diante, tirei um peso das minhas costas. Tinha muito receio deles sentirem falta da antiga escola, dos antigos amiguinhos e se negarem um pouco a se abrir por aqui. Óbvio que a saudade do que ficou para trás no Brasil bate. Algumas vezes pedem para falar com os amiguinhos, antigos professores e etc. Mas a alegria com o novo veio subitamente. Isso me tranquilizou muito nesse processo todo de mudança.
Querem saber mais? Então aguardem o próximo texto que nele vou contar mais um pouquinho do funcionamento da escola, material escolar, uniformes, alimentação e de como estão as crianças hoje.
Tatiana Bitencourt Buzzi é mãe de dois filhos, casada com Sergio, advogada especialista em reconhecimento da cidadania italiana e escritora no blog brasileirinhospelomundo.com.
Lá, você pode ler esse e outros assuntos sobre a vida em família em vários lugares do mundo.
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